sábado, 18 de outubro de 2008

Nosso cachorrinho de cada dia

Meu cachorrinho amado morreu ontem, deixando todos nós em frangalhos, depois de quase 14 anos de amor, dedicação e companheirismo.


Ele era de uma doçura e paciência ímpar. Nunca se queixava, nem das dores dos últimos dias. Mesmo quando ia ao veterinário, o que era lugar comum nos últimos meses, suportava dignamente todas as agulhadas e especuladas.
Seu amigo Lucca, um rapazola em plena energia da adolescência, não lhe deixava quieto e queria a todo o custo mais intimidade e brincadeira, mas ele, com a sapiência de um idoso, compreendia o afoito da idade e não revidava nunca, apenas mudava de lugar, o que não adiantava muito pois Lucca colava feito chiclete.


Quando era mais jovem, adorava ficar no jardim comigo correndo atrás dos esquilos e passarinhos que inundava os canteiros numa manhã de sol de primavera. Eram dias mágicos, onde eu transbordava de felicidade com a cumplicidade de meu companheirinho de todas as horas.


Tentei várias vezes pintá-lo numa tela, mas aquela quantidade de pelo negro me ofuscava e me deixava com os pincéis impotentes diante de tamanha complexidade da forma, mas Faby descobriu um jeito de imortalizá-lo nesta tela branca e preta.


Ele passou 14 anos dormindo comigo, mesmo que tinha essa caminha gostosa e quentinha, que só era visitada para aquela esfregada básica, quando voltava do jardim cheinho de carrapicho.
Dormia, comia, tomava banho e passeava sob a minha mira, como uma sombra, que a gente pensa que nunca nos deixará.

Mas eis que chega o dia de voltar a fonte de origem, de sair do manifesto para o não-manifesto, da partícula para a onda, da temporariedada para a eternidade e fazer nos lembrar de que tudo muda aqui nesse mundo de sonhos. Ele agora, dorme o sono dos justos.
No lado de cá... sobrou o vazio, a tristeza, a saudade, a solidão, as lágrimas. É tempo de luto.
Mas isso também vai passar como todo o resto do universo.........................................................
Billa, obrigada pela sua presença na minha vida!





sábado, 4 de outubro de 2008

Marina Silva

Eu assisti uma entrevista com Marina Silva, senadora e ex ministra do Meio Ambiente que me impressionou muito com a fibra, a ética e a simplicidade encantadora. Eu estava em frente de uma mulher de verdade, coisa rara de se ver em televisão. Geralmente só vemos moda, maquiagem do momento, culto a celebridades sem conteúdo algum e no máximo, receitas culinárias. Mas essa não, ela tinha tutano, tinha graça e sobretudo era transparente, no que acredita e professa.



Foi por acreditar em seus princípios que saiu do ministério, por não aguentar a pressão do próprio governo, do Agronegócio e suas hipocrisias descabidas.

Além de tudo isso, é artesã! faz colares com sementes e materiais da floresta maravilhosos, como esse aí da foto.

Segue um pouco da sua história e uma entrevista dada a Yasmin Trejos do blog "Aquavitae".

Marina Silva já foi seringueira, professora do ensino fundamental, senadora e ministra do Meio Ambiente. Hoje, é considerada uma das mulheres mais influentes do mundo por seu compromisso ambiental.


À primeira vista trata-se de uma Pessoa de aparência simples e tímida, mas quando fala se transforma em uma potente voz com peculiaridade não para metralhar e ofender, e sim ensinar e convencer.

Quando pequena, trabalhava com a extração da borracha; em sua casa, lhe contavam muitas histórias e lhe ensinaram a somar; mas foi aos 16 anos que entrou na escola. Utilizando o que havia aprendido, não só com os números, mas também com as letras, tornou-se professora e, em seguida, ativista ao lado Chico Mendes e Leonardo Boff. A vida a levou ao Senado e a ser Ministra do Meio Ambiente do Brasil.


Y- Quais seriam os principais desafios para América Latina na questão ambiental?
M- Primeiro, de continuar buscando um caminho próprio, pois no nosso desafio está posta uma equação que é única: não há como separar meio ambiente de desenvolvimento e vice versa. Pois ainda não atendemos as necessidades básicas e fundamentais do nosso povo. Os países que já atenderam estas necessidades podem estabilizar suas economias, não é o nosso caso. Fazer isso seria condenar milhões de pessoas a viver em pobreza. Temos que buscar uma nova forma de caminhar que possibilite crescer, gerar empregos, inclusão social, sem repetir os mesmos erros gerados em outras regiões do mundo. Ou seja: para eles é “descarbonizar” suas economias, para nós, é não carbonizar a nossa. E para isso só existe um caminho: o desenvolvimento sustentável.





Y- Quais seriam os principais atores desta mudança?
M- São agentes diversificados. Os governos têm um momento em que ocupam a posição de arco que impulsiona a flecha, mas em outros momentos, eles ocupam a posição de flecha impulsionada pelo arco da sociedade. Acho que estamos vivendo um momento em que a sociedade se colocou na posição de arco, querendo uma resposta, tencionando os governos para que induzam processos de gestão dos recursos naturais, que não comprometam estes recursos para as futuras gerações, até porque uma parte deles já está comprometida para as gerações presentes. E este movimento de arco também começa a influenciar a vida das empresas, que começam a pautar determinados assuntos e questões, pois percebem que seus usuários/clientes querem ser parceiros na viabilização de valores, não querem comprar coisas, querem adquirir valores. Ninguém quer levar uma mesa para casa que tem trabalho escravo, injustiça social e ambiental. Você pode levar uma mesa e sentar-se em volta dela e imaginar: esta mesa ajudou as pessoas a melhorarem suas vidas, ajudou a melhorar as florestas, a proteger a biodiversidade. Este é o recado para as empresas: mudem não apenas a maneira de fazer, mudem a maneira de ser. Quando nós mudarmos a nossa forma de ser, teremos um novo fazer. Isso é valido para políticos, ciência e todos nós.
Y- O que você acha que o Brasil pode fazer para ajudar na mudança em relação à água na AL? Como o Brasil pode se tornar um líder para AL neste sentido?
M- O Brasil pode manter esse exercício de liderar pelo exemplo e pela liderança fraterna. Transferir os conhecimentos que temos, nossas experiências. Buscar o apoio junto aos países desenvolvidos para que através de nós possamos repassar esta experiência para países em desenvolvimento. E não entrar na lógica de levarmos as coisas prontas para nossos parceiros, pois eles tem de se tornar auto-suficientes, toda e qualquer ajuda na agricultura, na gestão das águas, das florestas, da biodiversidade, dos conflitos sociais que não possam ser endogenamente re-significadas por aquela cultura, por aquela sociedade, são artificiais. Isso foi o que levou a crise alimentar que vivemos hoje: toda ajuda dada para a África sobretudo, foram ajudas artificiais dos europeus para os africanos. Não foi um processo com os africanos. Nós temos de deixar de fazer as coisas para as pessoas e fazermos com as pessoas. Acho que o Brasil precisa liderar pelo exemplo, inclusive nesta nova atitude.
Y- Você se julga uma mulher de fé. Qual a relação entre espiritualidade e água?
M- Uma das relações mais radicais entre espiritualidade e água está na Bíblia: “no princípio o Espírito de Deus pairava por sobre a água…” Deus disse: “Faça-se a luz, faça-se as plantas, os animais, faça o homem”… mas Ele não disse: “Faça-se a água”. Logo, se existe uma coisa que não temos como fazer é a água, pois ela já estava feita. RISOS

Y- A Revista Times disse que você é uma das 100 mulheres mais influentes do milênio. O que acha disso?
M- Acho que são escolhas simbólicas. Recentemente, foi escolhida uma lista com cinqüenta pessoas, dentre elas científicos, políticos, pessoas do mundo das artes etc. Isto para mostrar que elas representam determinados segmentos da sociedade. Eu sempre digo que o representante não substitui o representado. Assim, me sinto honrada de fazer parte deste grupo, mas sempre com a consciência e o sentido de que sou representante de algo e não que substituo aquilo que estou representando.

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